domingo, 24 de outubro de 2010

O CANÁRIO LIZARD

Môsar Lemos 

O CANÁRIO LIZARD
O Lizard é a raça mais antiga de canários domésticos e que não sofreu alterações na sua forma. Apareceu no princípio do século XVI na França sendo, ao que parece, fruto do cruzamento de um canário comum verde com outra espécie de  Serinus. Pode ter sido fruto de cruzamentos entre o canário comum e o canário listado, natural das terras altas da Tanzânia, cuja aparência é muito semelhante à do atual canário Lizard, tanto no desenho dorsal como peitoral. Pode também ter aparecido com cruzamentos entre um canário comum e um serzino também chamado de chamariz, ou milheirinha, Serinus serinus, que surgiu no Velho Continente, vindo da África, nos finais do século XIX, apresentando-se ainda hoje com fenótipos variados. Esta espécie aparece por vezes na natureza, com muitas características semelhantes às do atual Lizard nomeadamente com listas no peito e uma aproximação de escamas dorsais. Estes traços poderiam ter sido selecionados ao longo dos anos, pois do cruzamento entre canários e serzinos resultam descendentes férteis. Assim, possivelmente, temos o Lizard fruto de um cruzamento entre canário comum e canário listado da Tanzânia, ou um serzino. Talvez mais a hipótese de um cruzamento entre canário comum verde com algum serzino Africano. A hipótese de cruzamento com o Canário Listado da Tanzânia é pouco provável, pois estes Serinus vivem a grandes altitudes e povoam áreas acima dos 2000 metros. A Tanzânia era uma colônia Inglesa e os primeiros Lizards surgiram na França. Os Lizards, sem se saber por que, apareceram na França com intuito lucrativo, sendo levados para Inglaterra em meados do século XVI quando da divergência entre católicos e protestantes. Então, na Inglaterra o chamado "Comun French Canarie" tomou a designação de LIZARD, comparado a um lagarto, devido ao desenho das suas penas. Esta raça foi a única que se manteve inalterável ao longo do tempo. A revolução industrial no Século XIX e a melhoria da qualidade de vida deram em Lancashire oportunidade aos operários da indústria têxtil de criar canários como hobby. Para o canário Lancashire e também para o canário Lizard foi formado o primeiro clube especializado a "ASSOCIAÇÃO DOS CRIADORES LANCASHIRE E LIZARD". Esta associação sobreviveu até 1939, quando a 2ª guerra mundial explodiu. O Lizard, embora tão estimado por todos os criadores, sem se saber por que, começou a rarear estando quase extinta após a 2ª grande guerra. Foi após a guerra que vários criadores experientes, a partir de um reduzido número de casais, conseguiram a continuidade da raça. Hoje em dia encontra-se Lizards por todo o Mundo, existindo associações dedicadas a esta raça de canários, nomeadamente na Inglaterra, proporcionando exposições e concursos exclusivos da raça. Há muitos mistérios para solucionar neste belo passarinho como o caso do schimel ou neve. A ave apresenta manchas brancas nos bordos das penas e mesmo penas brancas, que aparecem no 2º ano de vida e também durante o 1º ano se perder penas, o que se deve evitar. Por que este fenômeno?  É um bom desafio. Outro seria conseguir-se Lizards sem cúpula, que ao se cruzarem, dessem garantidamente Lizards sem cúpula e este fator fosse constituinte do genótipo. Assim e com o propósito de assegurar o futuro do Canário Lizard, compete aos criadores difundi-lo, com o intuito de melhorar a raça e torná-la acessível a todos os que a desejarem criar.

 
 O canário LIZARD dourado.

 O canário LIZARD prateado

OS GALOS SELVAGENS

 O galo-vermelho-das-florestas (Gallus gallus), também chamado de galo de Bankiva, e que existe ainda hoje em estado selvagem nas florestas da Ásia (Índia, China, Tailândia, Vietnam, Java e Sumatra).


 Participaram também da formação das raças domésticas o galo-verde-das-florestas de Java e Sumatra (Gallus varius).


O galo de Lafayette (Gallus lafayettii) do Sri Lanka.



O galo Sonnerati da Índia (Gallus sonnerati).

A teoria de Darwin sustenta que todas as raças de galinhas domésticas hoje conhecidas se originaram dos galos selvagens.
Todas estas quatro espécies ainda existem em estado selvagem e são consideradas ameaçadas. Todas também são criadas em cativeiro como aves ornamentais.

OS PERUS


Môsar Lemos

OS PERUS
            Aos faisões do velho mundo (Phasianinae) correspondem os perus (Meleagridinae) na América do Norte e América Central. A subfamília é composta por dois gêneros com uma espécie em cada um deles e com distribuição geográfica distinta.
            A sistemática da ordem é a seguinte:
            Ordem: GALLIFORMES
            Subordem: GALLI
            Família: PHASIANIDAE
            Subfamília: MELEAGRIDINAE
            Gênero: Agriocharis
            Espécie: Agriocharis ocellata
            Gênero: Meleagris
            Espécie: 
 Meleagris gallopavo gallopavo
Meleagris gallopavo merriami
                         Meleagris gallopavo intermedia
                        Meleagris gallopavo osceola
                        Meleagris gallopavo silvestris
                        Meleagris gallopavo onusta
                       Meleagris gallopavo mexicana

            São Galiformes muito grandes, que apresentam plumagem com brilho metálico e a pele nua do pescoço e da cabeça de cores vermelha e azul, pregueada e com verrugas, que são mais desenvolvidas nos machos que nas fêmeas e incham quando a ave está excitada. O macho apresenta também uma protuberância carnosa e erétil na testa. A cauda possui dezoito penas, e apresenta um contorno claramente arredondado. As retrizes são grandes e largas e cada uma delas apresenta individualmente a ponta ligeiramente arredondada ou reta, como se houvesse sido cortada. Durante a corte os machos levantam estas penas e abrem a cauda como um leque. Eles mudam as penas da cauda de forma centrípeta (das laterais para as mediais).
            O bico é relativamente curto, mas delgado. As pernas são compridas e apresentam esporões, os quais são pouco desenvolvidos nas fêmeas.
            Estas aves são habitantes do solo durante o dia, mas passam a noite nas árvores. Ocasionalmente podem andar grandes distâncias até os seus poleiros noturnos, especialmente se estão procurando ramos sobre a água como proteção contra os predadores. Pela madrugada, bem cedo, eles se espalham pelos arredores em busca de alimentos. A alimentação é principalmente vegetariana, mas eles também comem uma variedade de insetos e outros pequenos animais.
            Agriocharis ocellata, o peru ocelado (com ocelos) é o menor deles e com plumagem mais brilhante. Os machos raramente são maiores do que 100 centímetros, com o peso variando de sete a oito kg. A plumagem é verde, azul, dourada e cobre bronzeado. As penas da cauda e coberteiras superiores são de uma coloração cobre bronzeada brilhante nas extremidades. Cada uma tem um “olho” azul (ocelo) com uma borda preta aveludada. A pele nua da cabeça e pescoço superior possui crescimentos semelhantes a verrugas de coloração vermelho-laranja. A coroa apresenta uma espécie de giba (calombo) grosso e ereto e na testa um apêndice alongado e flexível. Não existem cerdas no peito. È o mais magnífico galináceo do novo mundo. Habita somente as florestas tropicais das planícies do sudoeste do México, desde a península de Yucatan até a região de Petén na Guatemala e as áreas fronteiriças de Honduras. É uma ave considerada rara em seu habitate.
            Existem gravuras deixadas pelos Astecas nas quais estas aves aparecem ou suas penas sob a forma de ornamentos.
            O peru comum (Meleagris gallopavo) é o galináceo mais pesado. Totalmente desenvolvido o macho tem cerca de 100 a 125 centímetros de comprimento e pesa acima de 18 kg. As fêmeas são consideravelmente menores. A plumagem é verde metálico escuro, dourada, cobre e bronze, brilhante com bandas luminosas e escuras. A pele da cabeça e do pescoço é nua, enrugada, verrugosa e de coloração azul e vermelha. Um crescimento macio e carnudo na testa lembra um chifre quando está flácido, mas ele se dilata (intumesce) durante a corte. Na frente do pescoço freqüentemente existe uma barbela pendente. Pendurado no centro do peito aparece um feixe de cerdas ásperas e longas, com 15 centímetros.
            Existem sete subespécies e que estão extintas em muitas áreas. A ave pode viver em altitudes de 3350 metros, na região sul do seu território. Ocorrem em quase todo os EUA, com exceção da costa oeste e região noroeste do país. A nordeste não ultrapassa a região dos grandes lagos. No México também não ocorre na costa do Pacífico e limita sua distribuição ao sul na região da cidade do México, não havendo sobreposição com a área de distribuição de Agriocharis ocellata.
            Ambas as espécies são habitantes das florestas, mas preferem as florestas com clareiras ao invés daquelas densas. Entretanto, se mais de um quarto da área florestada é aberta, o número de indivíduos diminui.
            Os perus preferem caminhar a voar. Quando a neve se funde e cobre o chão da floresta, estas aves correm para escapar dos perseguidores. James Audubon, famoso naturalista americano, certa vez seguiu durante horas um grupo de perus selvagens, e mesmo estando montado a cavalo não conseguiu apanha-los. Se necessário estas aves pesadas são forte o suficiente para voar uma distância de um quilômetro ou mais. O lote permanece junto para dormir nas árvores durante a noite.
            Os perus encontram quase todo o alimento no solo da floresta. Eles comem as bolotas do carvalho e castanhas, assim como cerejas, morangos e uvas silvestres, nozes da faia, uma variedade de outras nozes e também as frutas dos cactos. Se estiverem em região de solo arado ou cultivado, eles podem comer grãos de trigo, milho e aveia. Comem as sementes das ervas daninhas, beliscam brotos tenros e capins, apanham insetos, aranhas e outros pequenos invertebrados e têm uma preferência especial por gafanhotos. Quando a neve espessa cobre o solo, eles apanham o que podem das árvores. Durante longos períodos de mau tempo eles podem permanecer em seus locais de moradia por mais de uma semana e ficar quase completamente sem alimentos.
            Os perus não são monógamos nem polígamos. Não estabelecem pares duradouros. O peru selvagem macho provavelmente não atinge a maturidade sexual antes de completar dois anos de idade. Na primavera cada macho tenta atrair o maior número de fêmeas que for possível através da cerimônia de cortejamento.
            O comportamento de corte ás fêmeas é conhecido em todos os locais onde existem perus domésticos. Eriçando sua plumagem, o macho parece aumentar o seu tamanho, o que já é bastante impressionante. Ele ergue a cauda e a abre integralmente formando uma espécie de leque, abaixa as asas e as arrasta contra o solo produzindo um som como o de arranhar o chão. Ao mesmo tempo os apêndices sem penas sobre a cabeça e o pescoço incham e mudam de cor. Nesta postura curiosa o macho anda empertigado de um lado para outro. Ele aspira o ar e emite sons abafados e retumbantes, repetidos com freqüência: “glú-glú-glú-glú-glú”. Este comportamento de corte atrai as fêmeas. Elas permanecem com o companheiro durante o período de acasalamento, mas posteriormente cessam todos os contatos com os machos. Quando outros machos se aproximam do macho cortejador, ele os ataca e ocorrem as lutas entre os machos. Ocasionalmente uma luta pode terminar com a morte de um dos contendores.
            Ambas as espécies de perus constroem os ninhos em locais bem escondidos no solo, embaixo da ramagem. A fêmea prepara uma concavidade na terra fofa ou folharada no solo da floresta, forrando com folhas, capim ou outros materiais vegetais.
            Agriocharis ocellata coloca oito ou mais ovos de coloração marrom brilhante com manchas e pintas de cor marrom escura. As aves que habitam as áreas mais distantes ao norte do território podem pôr entre 15 a 20 ovos. Se o número de ovos em um ninho excede este número, provavelmente representa a postura de mais de uma fêmea no mesmo ninho. Audubon, certa vez, encontrou três fêmeas em um ninho com 42 ovos.
            Os ovos do peru selvagem do norte (Meleagris gallopavo silvestris) são amarelo-amarronzados e delicadamente salpicados de manchas escuras amarelas e marrons ou outros sombreados de marrom. Somente as fêmeas incubam os ovos. Elas cobrem os ovos cuidadosamente com folhas antes de deixarem os ninhos em busca de alimento. A eclosão ocorre após 28 dias de incubação.
            Logo após a delicada penugem estar seca os peruzinhos deixam o ninho. Eles não podem voar e seguem suas mães andando pela floresta. Geralmente duas fêmeas guiam suas ninhadas juntas. Quando atingem cerca de duas semanas de idade, os peruzinhos já estão aptos a voar para as árvores, onde a mãe os mantém sob as asas. Os peruzinhos sofrem com o tempo úmido e as chuvas constantes causam a morte de muitos deles. Os jovens permanecem juntos com suas mães durante todo o inverno, e as famílias freqüentemente formam grandes bandos. Os machos que alcançam a maturidade sexual formam grandes grupos durante os meses frios. Neste período quando ainda há abundância de perus selvagens, tais grupos podem ter um número superior a 100 aves.
            Os machos e as fêmeas do peru ocelado (Agriocharis ocellata), entretanto, podem permanecer juntos após o término da estação de cria. Esta espécie foi descoberta em 1920 em Honduras, época em que uma fêmea foi capturada. Entretanto antes dela alcançar seu destino em Londres, foi vítima de um acidente e morreu afogada no Tamisa após a caixa em que era transportada ter caído naquele rio.
            A reprodução desta espécie em cativeiro foi obtida pela primeira vez com sucesso no Jardim Zoológico de San Diego, sob condições complicadas, nos anos 40. O único macho tinha um problema nas pernas e era incapaz de copular e por este motivo foi tentada a inseminação artificial, que contrariando as expectativas foi bem sucedida, e finalmente nasceram 14 peruzinhos e todos os perus ocelados que vivem hoje em zoológicos descendem daquelas aves.
            O Zoológico de Frankfurt tem perus ocelados desde 1955, entretanto a reprodução só obteve sucesso a partir de 1960 com animais oriundos do Zoológico de Rotterdan naquele mesmo ano. Desde então o Zoológico de Frankfurt criou diversas aves até a maturidade, remetendo alguns para outros zoológicos. Este é um bom exemplo de “conservação indireta”: reprodução em larga escala nos zoológicos preservando as populações em estado selvagem.

CRIAÇÃO DOMÉSTICA
            O peru doméstico objeto de nosso estudo descende da subespécie Meleagris gallopavo gallopavo, a qual habita ao sul das montanhas mexicanas, e foi domesticado pelas antigas culturas indígenas americanas. Somente após o descobrimento e conquista da América os espanhóis levaram-no para a Europa. Hoje os perus criados comercialmente nas Américas são originados daquelas aves domésticas levadas para a Europa.
            Existem diferenças interessantes entre a morfologia e o comportamento dos perus domésticos em relação ao peru selvagem. Os perus selvagens têm o cérebro, as adrenais e a hipófise maiores. Eles são mais ativos e mais vigilantes do que os perus domésticos. No peru doméstico a atividade sexual inicia com um ano de idade, enquanto no selvagem somente aos dois anos de idade. Os perus domésticos também iniciam a criação mais cedo durante o ano. Eles não esperam que o clima esteja mais moderado para os jovens que vão nascer. Eles não cuidam os ninhos tão bem quanto seus parentes selvagens. Quando ouvem o sinal de alarme de suas mães os peruzinhos selvagens tornam-se rígidos e imóveis. Por outro lado os peruzinhos domésticos ou aqueles produtos do cruzamento entre selvagens e domésticos, continuam seus movimentos atraindo a atenção dos predadores.
            O peru doméstico de forma semelhante ao galo doméstico perdeu as habilidades necessárias para sobreviver em estado selvagem. Eles não sobrevivem durante muito tempo sem os cuidados humanos.
RAÇAS DE PERUS RECONHECIDAS PELA APASP (American Poultry Association Standard of Perfection)
·         BRONZEADA
·         HOLANDES BRANCO
·         NARRAGANSETT
·         NEGRO DE SOLOGNA
·         BLACK NORFOLK
·         ARDESIA (SLATE)
·         VERMELHO DE BOURBON
·         BELTSVILLE BRANCO PEQUENO
OUTRAS RAÇAS
·         BBB (GIGANTE BRONZEADO)                   
·         PRATEADO
·         BBW (GIGANTE BRANCO)               
·         NEBRASKA
·         AZUL
·         NYTHANY                                                                               
·         JERSEY                                                           
·         CRIMSON
·         ROMAGNOLO                                                 
·         BENEVENTO
·         AVELINO BRANCO
HIBRIDOS COMERCIAIS
·         (BUT) BRITISH UNITED TURKEYS (CHESTER, UK)
·         BUT 6, BUT 8, BUT 9, BUT BRONZE
·         NICHOLAS (CALIFÓRNIA, USA)

·         CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O PESO
CATEGORIA
IDADE (SEM)
PESO (kg)

MACHO
FÊMEA
MACHO
FÊMEA
PESADOS
20 a 24
16 a 18
13 a 16
7 a 7,5
MÉDIOS
12 a 14
12 a 16
5 a 6
3,5 a 5,5
LEVES
12 a 14
12 a 14
4 a 5
3 a 4

OS CANÁRIOS

  
Môsar Lemos
A AVE
            O canário doméstico atual originou-se do canário selvagem (Serinus canaria) pássaro nativo das ilhas Canárias e sua domesticação ocorreu há mais de 400 anos. Alguns historiadores acham que no século XIV e outros no século XV.
É certo que os espanhóis conquistaram as ilhas Canárias em 1478 e a introdução do canário na Europa deve-se a eles.
            Acredita-se que em 1573 um navio espanhol vindo das ilhas Canárias com destino ao porto de Livorno na Itália, afundou próximo à ilha de Elba. O capitão do navio percebendo a eminência da tragédia lançou toda a carga ao mar e ordenou que fossem libertados os pássaros que eles traziam das ilhas Canárias. Desta forma os canários selvagens colonizaram a ilha de Elba e se reproduziram aos milhares. É interessante o fato de que aquelas aves nunca migraram para o continente.
            Atraídos pelo belo canto daqueles passarinhos, comerciantes holandeses e italianos começaram a capturar as aves para vende-las no continente. Iniciou-se assim a canaricultura, a princípio com aves trazidas pelos comerciantes e posteriormente, devido à facilidade com que as aves se reproduziam em cativeiro, com o estabelecimento de criações domésticas e mais tarde com grandes criações comerciais. Logo o canário existia aos milhares espalhados pelos diversos países da Europa.
            Os cruzamentos consangüíneos favoreceram o aparecimento de mutações, não só na cor das aves, mas também no porte e conformação, algumas delas verdadeiras aberrações e deformidades que foram fixadas pelo homem, constituindo novas raças. São exemplos o Gibber italicus, o Bossu belga, o Scotch fancy, o Hoso japonês, que na realidade são canários corcundas.
            O cruzamento de exemplares de maior porte permitiu o aparecimento de raças gigantes como o Lancashire (23 centímetros) e o Yorkshire (18 centímetros).
            Alterações na plumagem permitiram a fixação de raças com as penas enroladas (frisadas), como o Frisado holandês e o Frisado parisiense, e raças com adornos de plumas na cabeça (topetes), como, por exemplo, o Gloster corona ou bonés, como nos canários Lizard.
            Algumas raças reúnem varias destas mutações, apresentando corcunda e penas enroladas como o Frisado holandês do sul; penas enroladas e topete como o Padovano.
            Os canários selvagens são basicamente verdes com tons de cinza e amarelo, e um pouco menores que nossos canários atuais, que devem medir cerca de 13 centímetros. As mutações foram aparecendo de forma espontânea, e foram então fixadas através de cruzamentos.
            Um fato marcante na canaricultura foi o aparecimento do fator vermelho na plumagem, obtido através do cruzamento da canária como o macho de pintassilgo da Venezuela (Carduelis cucullatus), também conhecido como Tarim da Venezuela, passarinho de pequeno porte e de intensa coloração vermelha e preta. Esta hibridização ocorreu na Alemanha em 1926, e com gerações F1 férteis a cor vermelha foi fixada nos canários.
            O canário ainda existe em sua forma selvagem em Tenerife e Gram Canária, tendo desaparecido em boa parte de sua área de distribuição original. Existe em grande número, talvez maior que em Tenerife e Gram Canária, na ilha da Madeira onde foi introduzido.

SISTEMÁTICA:
                                   Classe: AVES
                                   Superordem: CARINATAE
                                   Ordem: PASSERIFORMES
                                   Subordem: OSCINES
                                   Família: FRINGILLIDAE
                                   Gênero: SERINUS
                                   Espécie: Serinus canaria

O CANÁRIO NO BRASIL:
                                  
            Provavelmente o canário ROLLER chegou ao Brasil em 1920 pelas mãos de criadores gaúchos, e segundo os canaricultores o responsável pela primeira importação foi o criador Carlos Nogueira da cidade de Pelotas. Em 1930 foi fundada a primeira associação de criadores de canários no Brasil; a SPCC (Sociedade Pelotense de Criadores de Canários). Desta data em diante a criação de canários foi ganhando adeptos gradualmente, e hoje existem cerca de 100 associações de criadores de canários espalhadas pelo Brasil, congregando mais de 10.000 criadores, que produzem cerca de 1.200.000 filhotes anualmente.
            No Estado do Rio de Janeiro pelo menos cinco associações de criadores de canários estão ativas: a ACCN (Associação dos Criadores de Canários de Niterói), a UNCC (União Nacional dos Criadores de Canários), a CRAC (Canaricultores Roller Associados Cariocas), a 3C (Centro de Criadores de Canários) e a AICC (Associação Independente dos Criadores de Canários de Volta Redonda).
            Como os primeiros canários importados eram oriundos da Bélgica, a raça Roller ficou mais conhecida popularmente como canário belga, o que não condiz com a realidade já que o Roller foi desenvolvido na região de Harz na Alemanha, por volta de 1860 e se tornou conhecido mundialmente após a exposição de 1900 na cidade de Leipzig na Alemanha, apresentados por Henri Seiffer, que os havia selecionado para cantar. Isto foi conseguido de tal forma que os exemplares apresentados na exposição custavam cinqüenta vezes mais que os outros canários vendidos na mesma feira.
            Aos canários criados sem critério e produtos de cruzamento de diversas raças e linhagens, os criadores dão o nome de “PINDORGA”, que significa canário sem raça definida e, portanto de menor valor, embora alguns exemplares cantem muito bem e sejam chamados de “canário belga”.

AS DIVERSAS RAÇAS DE CANÁRIOS:

            Os canários domésticos modernos estão classificados dentro de três grupos distintos, embora todos eles pertençam à mesma espécie: Serinus canaria. São conhecidos como canários de canto clássico, canários de porte e canários de cor. Além destes três grupamentos existem os híbridos do canário com outras espécies selvagens, destacando-se os híbridos com o tarim da Venezuela (Carduelis cucullatus), e com o pintassilgo português (Carduelis carduelis). Este último bastante valorizado no Brasil e conhecido pelo nome de Pintagol. O híbrido com o pintassilgo do nordeste brasileiro (Carduelis yarellii) e o pintassilgo do sul do Brasil (Carduelis magellanicus) também tem sido obtido com certa facilidade.
            Os canários de canto clássico são três: o Timbrado espanhol, o Malinois belga e o canário de Harz (Roller).
            Nestes canários o importante é a qualidade do canto, não sendo avaliados detalhes da plumagem ou porte da ave.
            Existem pelo menos vinte e três raças de canários de porte, também conhecidos como canários de forma, tipo ou postura ( postura aqui referida no sentido de posição, não tendo relação com a postura de ovos como nas galinhas poedeiras). Para estas aves o que se busca é a perfeição nos padrões específicos de cada raça, independente das cores da plumagem.

1.    Border fancy.
2.    Gloster fancy.
3.    Gibber italicus.
4.    Lizard.
5.    Yorkshire.
6.    Topete alemão.
7.    Norwich.
8.    Lancashire.
9.    Frisado suíço.
10. Bérnois.
11. Raza espanhola.
12. Hoso japonês.
13. Münchener.
14. Bossu belga.
15. Frisado holandês do sul.
16. Fife fancy.
17. Padovano ou Frisado de topete.
18. Scotch fancy.
19. Frisado holandês do norte.
20. Crest.
21. Crest-bred.
22. Milanês ou Frisado de cor.

Os canários de cor constituem um universo à parte, onde além dos aspectos morfológicos dos canários os padrões de cores são rígidos, orientando os acasalamentos e a maneira como as cores se expressam na plumagem dos canários.
            A nomenclatura oficial de cores da Confederação Ornitológica Mundial admite 316 variações diferentes, dentro de quinze grupos e 39 classes distintas.
            A nomenclatura oficial da Confederação Ornitológica Mundial para o hemisfério sul é mostrada a seguir.

NOMENCLATURA OFICIAL DA CONFEDERAÇÃO ORNITOLÓGICA MUNDIAL

GRUPO
COR
CLASSE
I

AMARELO
1.     Amarelo dourado
2.     Amarelo limão
3.     Amarelo nevado
II
VERMELHO
4.     Vermelho intenso
5.     Vermelho dominante
III
BRANCO
6.     Branco recessivo
7.     Branco dominante
IV
MOSAICO
8.     Todos da linha clara separadamente por variedades de cores
V
MARFIM
9.     Todos da linha clara
VI

VERDE
10.   Verde dourado
11.   Verde limão
12.   Verde nevado
VII
COBRE
13.   Cobre vermelho intenso
14.   Cobre vermelho nevado
VIII
AZUL
15.   Azul intenso
16.   Azul nevado
IX


AGATA
17.   Ágata dourado
18.   Ágata limão
19.   Ágata nevado
20.   Ágata vermelho intenso
21.   Ágata vermelho nevado
22.   Ágata prateado
X


CANELA
23.   Canela dourado
24.   Canela limão
25.   Canela nevado
26.   Canela vermelho intenso
27.   Canela vermelho nevado
28.   Canela prateado
XI


ISABELINO
29.   Isabelino dourado
30.   Isabelino limão
31.   Isabelino nevado
32.   Isabelino vermelho intenso
33.   Isabelino vermelho nevado
34.   Isabelino prateado
XII
MOSAICO
35.  Todos da linha escura separadamente por variedade de cor
XIII
MARFIM
36.  Todos da linha escura
XIV
OPAL
37.  Todos conjuntamente
XV
MESTIÇOS
38.   Híbridos F1 (Tarim)
39.   Híbridos F1 (Outras espécies)


Os canários de cor são agrupados de acordo com a presença ou não do lipocromo e da melanina, que são os dois únicos pigmentos utilizados pelos canários na formação de suas cores. Apenas dois tipos de lipocromos se depositam na plumagem dos canários: o amarelo e o vermelho. O lipocromo amarelo existe nas sementes comuns, tais como alpiste, colza, níger e pode ser armazenado no organismo da ave, especialmente na pele e tecido adiposo. Já o lipocromo vermelho, que não pode ser armazenado no organismo dos canários, existe nas cenouras, beterrabas, algas marinhas e carapaças de alguns crustáceos que geralmente não fazem parte da dieta normal dos canários. Desta forma deve ser oferecido artificialmente para a fixação da cor vermelha nestas aves.A melanina é produzida no próprio organismo da ave e se apresenta de coloração negra ou marrom.
            A Ordem Brasileira dos Juízes de Ornitologia através da Federação Ornitológica do Brasil divide os canários de cor em dois grandes grupos: os melânicos e os lipocrômicos, normalmente chamados pelos criadores de linha clara e linha escura. Além disto os canários são também dividos em canários “com fator” e canários “sem fator”, referência a presença ou não do fator vermelho (lipocromo vermelho) herdado do pintassilgo da Venezuela. Desta forma todas as 316 apresentações de cores dos canários estão inseridas dentro destes quatro grupos: 1) Linha clara sem fator; 2) Linha clara com fator; 3) Linha escura sem fator e 4) Linha escura com fator.
            A presença do fator INO nos canários, determinando o aparecimento de olhos vermelhos, por ausência de pigmento, criou as seguintes denominações: ALBINO para canários brancos de olhos vermelhos, LUTINO para canários amarelos de olhos vermelhos e RUBINO para canários vermelhos de olhos vermelhos.

AS CORES CLÁSSICAS DOS CANÁRIOS

LINHA
COR



CLARA SEM FATOR
Branco
Branco dominante
Amarelo intenso
Amarelo nevado
Amarelo mosaico
Amarelo marfim intenso
Amarelo marfim nevado



CLARA COM FATOR
Vermelho intenso
Vermelho nevado
Vermelho mosaico
Vermelho marfim intenso
Vermelho marfim nevado
Vermelho marfim mosaico






ESCURA SEM FATOR
Azul
Azul dominante
Verde intenso
Verde nevado
Canela amarelo intenso
Canela amarelo nevado
Canela prateado
Ágata amarelo intenso
Ágata amarelo nevado
Ágata prateado
Isabelino amarelo intenso
Isabelino amarelo nevado
Isabelino prateado




ESCURA COM FATOR
Cobre intenso
Cobre nevado
Canela intenso
Canela nevado
Ágata vermelho intenso
Ágata vermelho nevado
Isabelino vermelho intenso
Isabelino vermelho nevado